cabeç

cabeç
luz

13 setembro 2009

Sinal dos tempos; namorar, ficar, azarar, ter rolo

Seria um sinal dos tempos a maneira descompromissada da maioria das pessoas se relacionarem afetivamente?

Vidas Abertas

"Cara Eunice. Moro em São Paulo há 12 anos, trabalho na área de cultura, e tenho acompanhado o seu trabalho. Surpreso, acho sua forma de escrever deliciosa. Devo-lhe dizer que nos conhecemos de alguns encontros sociais em Salvador, mas tudo muito en passant. Você é amiga de amigos dos meus amigos. Mas lembro-me de sua risada gostosa e da sua ironia, que de vez em quando você deixa passar em sua coluna. Mas minha pergunta é a seguinte: você não acha que hoje em dia não estão escasseando os relacioanmentos mais sérios? A facilidade das separacões, as traições, estão meio que promovendo uma nova forma afetiva bem mais fast-food, como ficar, azarar, ter rolo, caso e o que mais surgir? Esta é minha hipótese? Você tem outra explicação, minha charmosa psicanalista?

Para lhe esclarecer, tenho 38 anos, mas freqüento o pessoal de 18 a 55 anos. Tá tudo igual. A mesma queixa.

Sou bissexual, agora tenho um rolo com um carinha, mas já tive histórias com mulheres também. Porém, no campo gay é a mesma coisa.

O que você pensa disso? Sinal dos tempos?

Sergio".

Resposta:

Yes, Sergio. Sinal dos tempos. Assista ao seriado Sex and city, sobre o comprotamento de quatro nova-iorquinas descoladas e você verá que o mundo da classe média alta letrada e viajada de Salvador, seus pactos, cuidados, regras de comportamentos, formas de sentir e de ter prazeres, se globalizou... Também.

Existe mais influências intergeracionais, e os coroas se misturam com os adolescentes, com alguma diferença, mas sem tanta hieraquia.

Por isso você freqüenta essa enorme faixa etária que mencionou: o trânsito não está tão mais fechado.

- Acho que existem dois aspectos relevantes para se verificar aí: a abertura dos costumes e a participação cada vez maior da mulher numa faixa de comando intelectual e econômico fazem o casamento deixar ser um objetivo precoce. Assim pode-se esperar mais. Enquanto espera se experiementa. Mesmo o casamento é uma experiementação. Dissolúvel, para não dizer que nunca casou. Não ter casado nunca é um estigma.

Por outro lado, a era PSY da qual sou atuante e um dos responsáveis, multiplicou de tal forma a capacidade do sujeito analisar as suas terceiras intenções que isso o fez também econtrar no outro a sua desconfiança de si. As relacões se tornaram laboratórios e sites de espionagem.

Hoje, uma menina desconfia de que o seu namorado é bissexual ou já teve alguma experiência gay e não entra no convento por isso. Muito menos faz um câncer de seio protestando contrta sua feminilidade ferida. Se não gosta de hibridações, simplesmente pula fora e continua amiga e confifente do ex.

As traições ja estão começando a ser usuais e até políticos em campanha, como Ciro Gomes, que é moderno, diz que a monogamia é inviável para a natureza humana.

Natureza humana do homem e da mulher. Porque - parafraseando aquele nosso ex-ministro - mulher também é gente.

Nem choro nem ranger de dentes diante desses tabus que já assassinaram tanta gente e que ainda têm seus efeitos destrutivos.

Mas essa maleabilidade de relações pode causar dor naquele que é deixado. O ser humano é vaidoso, não gosta de ser dispensado à revelia, tem suas fantasias de onipotência, gostaria de ser sempre desejado.

É aí que a dor incide, e a paranóia aumenta. As relações se tornam oportunas. Estamos, através das psicoterapias, revistas sobre sexo e comportamento, internet, etc, tão avisados do que pode ser a estratégia do outro, que perdemos completamente a inocência. Não creditaremos, claro, na inocência alheia.

Assim como a Igreja Católica, nos fazendo visitar os porões da nossa cosnciência, nos fez ampliar as possibilidade de pecado, e São Paulo viu isso: "A lei criou o pecado" (Leia Foucault em História da sexualidade), a nossa hiperdecodificação da atitude alheia, a nossa esperteza, nos tirou a confiança no outro. Nunca o homem foi tão lobo do homem e eu não estou falando de Bush!

Os contratos prenupciais das estrelas de hollywood nos fazem ver isso: no horizonte dos tons cruizes e das caterinas-zetas-jones, brilha, como um laser, cifras de ganhos e perdas pecuniárias.

Arma-se um bunker no amor, para que não doa no bolso, além do coração. Pensões doem mais do que imagina a nossa vã filosofia.

Será que o amor assim tão assegurado, protegido das ilusões da eternidade, passeará mais tranqüilo que o nosso assustado amor de todos os dias?

Com tanta consciência do dom, não existe mais lugar para o amor - paixão puro desperdicio.

*Eunice Tabacof é psicanalista e membro da sociedade francesa Psychanalyse Actuelle.

Nenhum comentário:

AVENTURAR-SE É PRECISO!

  CAVALEIRO DE PAUS (Fonte: personare.com.br) O Cavaleiro de Paus como arcano de conselho para este momento de sua vida sugere que é chegado...