Berinjela chocada

Comecei a escrever as 23h58 do dia 3 de fevereiro de 2008.
Naquele dia, ocorreu algo inédito na minha vida, rompi o freio do meu pênis, sangrou muito. Estava comendo uma berinjela apertadíssima, e isso aconteceu 20 anos depois de ter tido a primeira experiência sexual propriamente dita. Curioso, minutos depois, observei longamente meu rosto no espelho, quase nada mudou. Procurei ver se uma ponta da ingenuidade que vinha habitando minha expressão, se ela estava de mudança ou se já fora. Continua lá.
Mas, o dito caso sangra muito mesmo. A berinjela ficou chocada, me pediu mil desculpas e quase morreu de remorso, enquanto eu a agradecia. E fiquei com complexo de castrátio, pálido, cantando -"Lascia Ch'io Pinga", de Handel da obra "Rinaldo". Ficou na minha cabeça um take do filme "Farinelli, il castratio", em que o guri sangrando é colocado dentro de um tanque com um líquido branco, acho que ópio, o menino havia sido castrado pelo próprio irmão para que conservasse voz de tenorino (a mais aguda possível num homem). Na cena o conteúdo líquido vai ganhando tom rosado mistura de sangue e ópio.
A perda da minha virgindade física, ontem, me remeteu à perda da outra virgindade: a psicológica. Isso 24 anos atrás. Tive o primeiro orgasmo e a primeira ejaculação no mesmo instante, aos 12 anos, num sábado, setembro. Havia conversado com Gisléia, índia, cabelos compridos e pele sedosa, toda cheirosa. Íamos nos ver na praia, logo no outro dia pela manhã. Morávamos numa mesma Rua dos Fundadores, em Eunápolis, que fica a 30 minutos de Porto Seguro, praia na qual nossas famílias constumavam passar todo o domingo. Na despedida, ganhei um selinho da cabo verde mais linda da rua, e fui dormir já sonhando acordado.
Na cama, estava sonolento e um pouco cansado. O tempo estava meio frio, o cobertor aquecido e os pensamentos borbulham na cabeça. Como seria o domingo na praia? Nós dois vestidos em roupas de banho, eu a abraçando, nossos corpos se tocando? E "meu próprio" chegando lá entre as pernas dela, ela gostando, e é hora de aplicar um beijo de língua, do mesmo que eu tinha aprendido com a secretária de minha mãe.
(Foi o meu primeiro beijo — Provoquei a diarista, chamando-a de tabaroa, dizendo que ela nunca namorou, que não sabe beijar, só para conseguir o que consegui, a boca da Raildes quase engoliu meu rosto. Mas essa é uma outra história)
O fato é que os desejos e os pensamentos foram ganhando realidade, e no simulacro do sonho, eu estava, enquanto roçava o cobertor, sentindo a pele dela aquecida pelo sol e já ouvia o gemer dos lábios dela ao meu ouvido.
AH! Algo terrível estava prestes a acontecer! eu estava quase molhando a cama. Todos podem saber que eu mesmo grande (12 anos) estava mijando na cama ainda?! Precisava levantar, mas era muito bom. E as minhas pernas? Elas estavam fracas, e ficando cada vez mais fracas, já não podia mais me levantar, e a vontade aumentava, a vontade estava insuportável, estava explodindo. Sem conseguir segurar, era uma locomotiva desgovernada!
Dei um pulo, peguei o bacio, segurando o prepúcio fechado, apenas um líquido gelatinoso peguento, parecendo cola e com cheiro que lembra água sanitária.
No outro dia choveu horrores! Sem praia, sem Léia!