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22 abril 2010

Fobia ao feminino: relato de uma mutilação

A UNICEF revelou ao mundo que três milhões de meninas na África e no Médio Oriente são sujeitas a mutilação genital todos os anos. A infibulação é lamentável, mas algo pior está acontecendo pelo mundo. No mundo e aqui no Brasil ainda se mata mulher por ciúmes, vingança, recusa de iniciar ou reiniciar a relação, ou negativa de manter relações sexuais. Vemos notícias desse tipo diariamente nos jornais. O que existe no feminino e no prazer do feminino de tão "diabólico" para ser tão perseguido? Confira abaixo matéria da Adital sobre a feminicídio num país da América Central; na Nicarágua o feminicídio ainda é a principal causa de morte violenta de mulheres. 

Feminicídio na Nicarágua

Karol Assunção *

"O feminicídio e/ou femicídio segue sendo a principal causa de morte violenta intencional de mulheres, meninas, adolescentes e jovens no país; é a manifestação extrema da violência que as mulheres sofrem por sua condição de ser mulher e uma flagrante violação de seus direitos humanos". Isso é o que conclui o Relatório Trimestral Feminicídio 2010 na Nicarágua, da Rede de Mulheres contra a Violência (RMCV). Prova disso é que, somente nos três primeiros meses do ano, a Nicarágua registrou 12 assassinatos de mulheres, sendo que dessas, quatro eram meninas menores de seis anos. No ano passado, o número de crimes contra o sexo feminino também não foi baixo: 79 mulheres assassinadas, segundo dados da RMCV.

De acordo com o relatório, a maioria dos assassinatos (67%) ocorreu contra mulheres em idade reprodutiva, fato que, para RMCV, mostra que "o feminicídio é a forma de controlar os corpos e a sexualidade das mulheres". Os crimes também estão relacionados a ciúmes, vingança, recusa de iniciar ou reiniciar a relação, ou negativa de manter relações sexuais.
A Rede ressalta ainda que os agressores, geralmente, são homens que convivem ou conviveram com as vítimas, como pai, (ex) marido, namorado e ex-companheiro. Em 66% dos casos, os responsáveis pelos assassinatos utilizaram instrumentos cortantes, como facões, navalhas e machados. A arma de fogo foi utilizada em 17% dos casos e, nos outros 17%, as mulheres foram vítimas de golpes e estrangulamentos.
Por conta disso, a Rede denuncia ao governo a necessidade de se implementar medidas de prevenção e de combate à violência contra a mulher, julgando e condenando os agressores. Ademais, destaca a importância de todas as mulheres terem acesso à proteção, ao apoio, à assistência jurídica e reparação.
"Lamentavelmente os operadores de justiça mostram a insensibilidade tipificando os assassinatos de mulheres, feminicídios e/ou femicídios nos delitos de homicídio e parricídio, o que há impedido visualizar e quantificar estes crimes contra mulheres e meninas como resultado das relações desvantajosas de poder entre mulheres e homens", considera.
Campanha contra Feminicídio
Diante dessa situação que vive Nicarágua, o país juntou-se a México, Honduras, Guatemala e El Salvador na Campanha Regional Contra o Feminicídio e pelo Acesso à Justiça para as Mulheres. A atividade, que começou em fevereiro no México, tem o objetivo de realizar ações durante todo o ano para chamar atenção da sociedade para o problema.
A situação não é grave somente na Nicarágua. Em entrevista à Trinidad Vásquez, da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), a coordenadora da organização Comunicação e Informação da Mulher (Cimac), Carolina Velázquez, afirmou que, em 2009, foram registrados 2.300 feminicídios do México até Nicarágua."
Relatório completo de janeiro a março de 2010 da RMCV está disponível aqui:

* Jornalista da Adital


Relato de uma mutilação
 
“A rapariguinha, completamente nua, é imobilizada por pelo menos 3 mulheres, sentada num banco baixo. Uma delas aperta os braços em volta do peito da criança; as outras duas mantêm abertas as pernas da criança à força de modo a abrir bem a vulva. Os braços da criança são amarrados atrás das costas ou imobilizados por duas outras convidadas.
(...) Em seguida a velha tira a lâmina e extirpa o clítoris. Segue-se a infibulação: a operadora corta com a lâmina o lábio menor de cima a baixo e em seguida raspa a carne do interior do lábio grande. Esta ninfectomia e raspagem são repetidas do outro lado da vulva. A criancinha grita e contorce-se de dor, apesar da força exercida sobre ela para ficar sentada.
A operadora limpa o sangue das feridas e a mãe, assim como as convidadas, “verificam” o seu trabalho, por vezes pondo lá o dedo. A intensidade da raspagem dos lábios grandes depende da habilidade “técnica” da operadora. A abertura que é deixada para a urina e para o sangue menstrual é minúscula.
Depois a operadora aplica uma pasta, assegura-se que a adesão dos lábios grandes fica feita através de um pico de acácia, que fura um lábio passando através deste para o outro. Desta maneira enfia 3 ou 4 na vulva. Estes picos são depois mantidos nesta posição com uma linha de coser ou com crina de cavalo. Volta-se a pôr pasta na ferida.
Mas tudo isto, não é o suficiente para garantir a união dos lábios grandes; por isso a rapariguinha é então atada a partir do pélvis até aos pés: faixas de tecido enroladas como uma corda imobilizam completamente as pernas. Exausta, a rapariguinha é depois vestida e deitada numa cama. A operação dura de 15 a 20 minutos segundo a habilidade da velha e a resistência que a criança oferecer.”

Fonte: "Mulheres e Direitos Humanos", publicado pela Anistia Internacional.

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