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24 novembro 2009

Dos instintos mais básicos



Assisti Fellini Satyricon de Federico Fellini umas três vezes, lá pelos idos dos 20 anos, na década de 1980. Dos filmes do diretor italiano, cujo estilo peculiar funde fantasia e imagens barrocas, Satyricon, rodado em 1969, é um dos que mais amo pela vitalidade das imagens que me remetem ao rubor da descoberta da sexualidade na minha adolescência estudantil.
Tudo muito louco e completamente caórdico (caos + ordem) pode parecer demente para um expectador comum ou para um professor de História, mas, para mim, resultou na oportunidade única de fruir um espetáculo visualmente deslumbrante.

Ou seja, o filme tem nada a ver com a Roma antiga dos livros didáticos, na verdade é um conto de fadas, no qual Frederico buscou inspiração no clássico de Petrónio —série de episódios picantes escritos durante o reinado do imperador Nero — para construir uma obra extravagante, cujos melhores momentos atingem o cume da sátira e do humor negro, rendendo indicação ao Oscar de Melhor diretor.


São pedófilos, homossexuais, sádicos, assassinos, impotentes, terremotos, Minotauro e um semi-deus hermafrodita. Na verdade, as partes menos surpreendente são aquelas que mais se aproximam do texto de Petrônio ou que têm algum significado vago histórico.


Os protagonistas são estudantes que se entregam às paixões mais ancestrais, aos instintos mais básicos. Em meio a um mundo que mais parece uma grande Babilônia, encontram morte, desilusão e escarnecem de tudo e de si mesmos, sem a mínima piedade. Estes romanos antigos que passaram o dia na folia, devastados pela devassidão, são realmente uma raça infeliz à procura desesperadamente de algo para exorcizar o medo da morte.

O filme causa, deliberadamente, muito estranhamento, entre outras coisas, menos pela dublagem tosca em que a voz está fora de sincronia com os lábios ou pela fotografia e figurino 'lisérgicos' (misturando afrescos romanos de Pompéia, alucinações, técnicas de claro-escuro e o colorido da popart), mais por atirar na cara do espectador que a condição universal e eterna do homem é realmente resumir-se na realização frenética da transitoriedade da vida que passa como uma sombra.

A trilha sonora — a cargo do irresistível Nino Rota — lembra bem os momentos mais experimentais do Pink Floyd, que anos depois lançaria Live at Pompeii (1972). Há quem imagine que Satyricon teria inspirado a banda de rock inglesa que tanto amo.

Fellini está eternizado para mim pela poesia de seus filmes, que mesmo quando vomitava sérias críticas à sociedade, não deixavam a magia do cinema desaparecer.

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