cabeç

cabeç
luz

13 abril 2009

Lascia ch’io pianga (original e tradução)


Na Idade Média, a Igreja havia proibido que mulheres cantassem no coral das igrejas. Para não ficar sem as necessárias vozes sopranos, os representantes de Deus na Terra encontraram uma solução ungida: castrar jovens meninos cuja voz tenha sido considerada bela. Assim, nos corais da Santa Igreja não faltariam nunca os sopranos e contraltos. Tudo em nome de Deus. Farinelli é o nome artístico de Carlo Broschi, um jovem cantor do Século XVIII, tempo do grande compositor Handel. Para preservar sua voz, ele foi castrado em sua infância. Durante toda sua vida ele se tornou um grande e famoso cantor de ópera, sendo levado à glória máxima, coberto de ouro por príncipes e venerado pelo público. Enquanto isso, Riccardo seu irmão, tinha uma carreira medíocre como compositor, e seu sucesso e fortuna dependiam da glória de seu irmão. A música Lascia ch'io Pianga, na película, é cantada por Ewa Mallas-Godlewska. Rinaldo se passa durante a Primeira Cruzada (1096-99) e o cerco de Jerusalém.

A origem da ópera Rinaldo

A jovem Almirena havia sido sequestrada pela feiticeira Armida, através de uma nuvem cheia de monstros, na presença de Rinaldo, durante um encontro idílico e romântico (Ato I). Na cena desse recitativo e ária, a jovem encontra-se em um jardim do palácio encantado da feiticeira e lamenta o seu destino. O rei Argante, amante de Armida, declara o seu amor à jovem, mas ela não lhe dá esperanças. Só quer lamentar seu triste destino e almejar a liberdade. O rei, então comovido, promete ajudar a libertá-la.

Numa análise retórica da ária “Lascia ch’io pianga” da ópera Rinaldo, de de Georg Friedrich Händel, a ópera Rinaldo (1711) foi a primeira “italiana” composta especificamente para os palcos londrinos. O libreto de Giacomo Rossi foi adaptado de um esboço de Aaron Hill do poema épico La Gerusalemme Liberata de Torquato Tasso, uma narração extremamente bem elaborada sobre a Primeira Cruzada Cristã. Após a estreia e o sucesso de Rinaldo, esse tema influenciou várias outras obras durante o século XVIII.

Quem é Georg Friedrich Händel ?

Händel nasceu em Halle, Alemanha, em 1685. Desde criança considerado um “menino prodígio” tev formação musical enriquecida em viagens pela Europa como violinista e cravista, alcançando ecletismo impensável a outros compositores barrocos. O interesse de Händel por ópera foi precoce, compôs sua primeira antes dos 20 anos, contendo a belíssima ária aqui analisada, então conhecida como “Lascia la spina”, que posteriormente ficou notória como “Lascia ch’io pianga” em Rinaldo.

Com o sucesso de Rinaldo, Händel compreendeu que o melhor local para aprender esse gênero era a Itália, onde passou a viver durante três anos. Em 1710, estabeleceu-se em Londres e, meses depois, estreou sua ópera Rinaldo, gênero que continuaria compondo, obtendo igualmente êxitos e fracassos. 

Em 1720, foi nomeado diretor da Royal Academy of Music, casa de ópera fundada por alguns nobres ingleses com a finalidade de revitalizar o gênero na Inglaterra. Händel passou então a viajar por toda a Europa em busca de artistas e compositores para futuras produções. Apesar do êxito obtido com Giulio Cesare (1724) e Rosalinda (1725), parte do público inglês não se sentia satisfeito com o modelo italiano, considerado por eles já esgotado.

Desapontamentos, fadiga, a ferrenha oposição e vaidade de seus rivais fez com que o compositor se voltasse para os oratórios, gênero que já havia cultivado no passado. O seu Messiah (1742) é considerado sua obra-prima por excelência.

O êxito de Rinaldo

 Os exércitos cristãos, liderados pelo general Goffredo, sitiam Jerusalém, então sob o domínio do rei muçulmano Argante. Este é apoiado por Armida, rainha de Damasco e poderosa feiticeira. Rinaldo, cavaleiro-herói cristão, é então procurado pelo general, que lhe pede ajuda na conquista de Jerusalém. Em troca, o general lhe oferece a mão de sua filha Almirena, que já está apaixonada por Rinaldo. A luta é travada não somente no âmbito terreno, mas também no espiritual. No final, os exércitos cristãos acabam alcançando a vitória e o bem triunfa sobre o mal. O amor terreno se contrapõe a questões mais espirituais e profundas.

Entre os personagens, encontram-se heróis, soldados, a realeza, servos, assim como sereias, magos, espíritos, a feiticeira e monstros. Esse tipo de argumento foi muito bem aceito pelo público do final do período barroco, o que demonstrou o grande êxito de Rinaldo na época.

Lascia ch’io pianga (original)

Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,

E che sospiri la libertà!

E che sospiri, e che sospiri la libertà!

Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,

E che sospiri la libertà!

Il duol infranga

queste ritorte

de’ miei martiri

sol per pietà!

(de’ miei martiri

sol per pietà!)

Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,

E che sospiri la libertà!

E che sospiri, e che sospiri la libertà!

Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,

E che sospiri la libertà!

 
Lascia ch'io pianga (tradução)

Deixa que eu chore

Deixa que eu chore

Pelo meu destino cruel,

E porque eu desejo liberdade!

Deixa que eu chore

Pelo meu destino cruel,

Que eu suspire pela liberdade!

Que eu suspire,

Que eu suspire pela liberdade!

Deixa que eu chore

Pelo meu destino cruel,

Que eu suspire pela liberdade!

O meu destino cruel

Que eu suspire pela liberdade

De meus martírios

Só por piedade,

De meus martírios

Só por piedade

Deixa que eu chore

Pelo meu destino cruel,

E porque eu desejo liberdade! 



Sobre o filme:
Informações Técnicas
Direção:  Gérard Corbiau
Título no Brasil:  Farinelli
Título Original:  Farinelli, Il Castrato
País de Origem:  Bélgica / França / Itália
Gênero:  Drama
Tempo de Duração: 105 minutos
Ano de Lançamento:  1994
Estúdio/Distrib.:  Spectra Nova
Elenco
Stefano Dionisi - Carlo Broschi (Farinelli)
Enrico Lo Verso - Riccardo Broschi
Elsa Zylberstein - Alexandra
Jeroen Krabbé - George Frideric Handel
Caroline Cellier - Margareth Hunter
Renaud du Peloux de Saint Romain - Benedict
Omero Antonutti - Nicola Porpora
Marianne Basler - Countess Mauer
Pier Paolo Capponi - Broschi
Graham Valentine - Prince of Wales
Jacques Boudet - Felipe V

6 comentários:

Anônimo disse...

Muito obrigado pelo carinho e pela erudição.
Fiquei fascinado pela ária no filme Anticristo [Lars von Triers] e finalmente pude entender seu conteúdo.

Um abraço

Anônimo disse...

Me coloco na mesma posição do Marco acima. A controvérsia gerada pelo filme, para um fã do diretor, só incita mais e mais pesquisa. Você viu o filme? Você postou algo sobre ele? Seria interessante saber sua opinião.

Abraço,
Bruno Amorim.
brunoalvesamorim@hotmail.com

Auréola Branca disse...

Fico grata, desde já, a ajuda que me forneceu com a tradução da letra Lascia ch'io pianga. Vejo que tens bom gosto.

Abraços.

Evagner santos disse...

Adoro as arias da Ópera Rinaldo. Assistir ao filme Farinelli, Il castrato e amei. Destaque para as arias: Lascia ch´io pianga e Ombra fedele anch´io. Nota dez para o filme. E parabéns pelo blog.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Eden Nilo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

AVENTURAR-SE É PRECISO!

  CAVALEIRO DE PAUS (Fonte: personare.com.br) O Cavaleiro de Paus como arcano de conselho para este momento de sua vida sugere que é chegado...