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30 janeiro 2009

Lembranças




Veja que preciosidade roubei desavergonhadamente do "Pequeno Inventário de IMPROPRIEDADES". O texto é do MaxReinert. Pssssssssssiiiu....

Simples.

Um baque surdo.
Um som seco.
Um impacto terrível.
A perda dos sentidos.
Foi assim que eu morri.

Mas antes, houve a queda.
Trinta andares de queda.
Trinta segundos de pavor.
Trinta anos passando à frente dos olhos.
Foi assim que eu caí.

Mas antes, houve o salto.
A vontade da queda.
A necessidade do fim.
A falta de compreensão sobre o mundo.
Foi assim que eu desisti.

Mas antes, houve a dor.
O momento de fraqueza descoberto.
A vergonha da desilusão causada.
A situação embaraçosa e cruel.
Foi assim que eu fui pego.

Mas antes, houve a ilusão.
A necessidade de corresponder.
A criação do mito.
A pressão auto imposta.
Foi assim que eu me comprometi.

Mas antes, houve a paixão.
O desejo maior.
O encontro dos corpos.
A necessidade do outro.
O preenchimento de algo incompleto.
A sensação de completude, pela primeira vez.
A certeza do amor.
Foi assim que tudo começou.

Eu nunca achei que morrer fosse tão fácil. Foi fácil, bastou um impulso. Depois que você se atira de cima do prédio, não há mais nada que se possa fazer. É cair e pronto. A sensação, realmente, não é das melhores. É um mar de coisas que você lembra que gostaria de ter feito e não fez. É um mar de coisas que você gostaria de não ter feito e fez. É um mar de coisas. De qualquer forma, é rápido. Um salto, o desespero e fim. Acabou. Piso. Cimento. Morrer é fácil, difícil é viver. Viver envolve todo um aglomerado de gentes e vontades. Viver é complexo demais. Eu morro, pelo menos, uma vez por semana. Cometo suicídios, vários. E aí, na semana seguinte, reinicio do zero. Novas complicações. Sem contas a pagar, de nenhuma espécie. O que me incomoda um pouco é que algumas pessoas não compreendem essa minha dinâmica. E vêm, eles todos, me cobrarem posturas antigas. Chega, eu grito. Esse que vocês estão buscando morreu na semana passada. Eles não entendem. Eles querem que eu seja consciente por meus atos. Eles dizem que eu tenho que ter responsabilidade em relação às outras pessoas. Responsabilidade...

Se eu tivesse responsabilidade eu teria fugido logo no início.

Um comentário:

MaxReinert disse...

Opa!!!!
Muito obrigado por citar a autoria do texto... acredite, muita gente simplesmente posta sem dar link nem dize quem escreveu!

Fico feliz que tenha gostado do texto!

Abraços

AVENTURAR-SE É PRECISO!

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