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10 março 2015

Quando os sonhos acordam

Era uma casa do tamanho de um castelo, com amplitude e cômodos, móveis e luxo suficientes para ser uma universidade, museu, biblioteca, seminário, projeto social, hospital. Mas não era. A casa ampla, cheia de espaços, de pé direito enorme, estava em decadência, toda desarrumada, paredes sujas, embora bem iluminada. Nela morava um rei e dezenas de súditos, todos a seu serviço.
As condições de trabalho péssimas, pessoas submetidas a uma hierarquia injusta, muitas leis e normas irracionais mantidas por uma disputa sufocante, jogo de fofocas, mentiras e calúnias.
Eu entrei no castelo, logo pela porta da frente, sem saber, quase nu. E o pior pelo gabinete do rei com uma bicicleta, chinelos de dedo, camisa suja. Estava sendo esperado como se fosse outro rei, cheio de protocolos, títulos e diplomacia. Mas não, a bicicleta estava um pouco suja.
Não estavam esperando por mim assim como eu sou. Sabia que gozava de grande admiração pelas pessoas, havia sido anunciado pelo próprio imperador, foram orientados a me bajularem com honrarias e mimos, até que um dia, tudo se inverteu terrivelmente. Passei a ser insultado, provocado, desqualificado. Desacreditado, ouvi “as do fim”.
O rei se sentiu insultado ainda por eu ter chegado de bicicleta em seu gabinete, e nem o ter reconhecido – ele se vestia como um bobo da corte, tipo fantasia pierrotesca de gravata. Não o reconheci e passei direto para os meus aposentos. Não sabia mais o que fazer, queria conversar diretamente com o rei. Em vão, seus súditos colocavam obstáculos, usavam seus micropoderes para me sabotar, queriam me levar à forca. Antes de morrer, em tom solene e sobre a atenção de todos, falei o que sentia e o que havia notado, da imensa necessidade de arrumar a bagunça daquela casa. Que talvez aquelas pessoas não fossem ruins, mas que uma onda de ódio pairava sobre todos os moradores. Eu ia dizer o mais importante, quando acordei.
Foi um sonho. Numa noite, quando morava em Candeias, estava pra ser executado em outro sonho, quando acordei em outro sonho, e fui acordando por mais outros sonhos de sonhos mais de sete vezes.   

Éden Nilo

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