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27 novembro 2008

Morangos da vida




Um sujeito estava caindo de um barranco e se agarrou às raízes de uma árvore.

Em cima do barranco, havia um urso imenso querendo devorá-lo. O urso rosnava, mostrava os dentes, babava de ansiedade pelo prato que tinha à sua frente.

Embaixo, prontas para engoli-lo quando caísse, estavam nada menos do que seis onças absolutamente famintas.

Ele erguia a cabeça, olhava para cima e via o urso rosnando. Quando o urso dava uma folga, ouvia o urro das onças, próximas do seu pé. As onças embaixo querendo comê-lo e o urso em cima querendo devorá-lo.

Em determinado momento, ele olhou para o lado esquerdo e viu um morango vermelho, lindo, com escamas douradas refletindo o sol. Num esforço supremo, apoiou o seu corpo, sustentado pela mão direita, e, com a esquerda, pegou o morango.

Quando pôde olhá-lo melhor, ficou inebriado com a sua beleza. Então, levou o morango à boca e se deliciou com o sabor doce e suculento.

Foi um prazer indescritível comer aquele morango tão gostoso.

Talvez você pergunte: "mas, e o urso?" Esqueça o urso, coma o morango!

"E as onças?" Azar das onças. Coma o morango!

Relaxe, e viva um dia de cada vez! Coma o morango!

Problemas acontecem na vida de todos nós, até o último suspiro. Sempre existirão ursos querendo comer nossas cabeças e onças pulando para nos pegar pelos pés. Isso faz parte da vida e é importante que saibamos viver dentro desse cenário. Mas precisamos saber comer os morangos. A vida está acontecendo agora. Nesse exato momento deve haver um morango esperando por você. O melhor momento para ser feliz é agora. O futuro é uma ilusão que sempre será diferente do que imaginamos.

As pessoas visualizam metas e, quando as realizam, descobrem que elas não trouxeram a felicidade.

Elas esquecem que a felicidade é construída todos os dias.

Eu torço para que você descubra sua maneira de ser feliz!

Espero que coma os morangos agora.

25 novembro 2008

Um retrogosto persistente



- Hummm...

- Hummm...

- Eca!!!

- Eca?! Quem falou Eca?

- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?

- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de
trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa
as papilas de lembranças tropicais atávicas...

- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!

- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?

- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando
iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!

- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!

- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o
narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?

- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso
queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como
segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e,
então...

- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!

- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...

- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!

- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por
exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...

- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...

- O senhor poderia começar com um Beaujolais !

- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!

- Então, que tal um mais encorpado?

- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...

- Ou, então, um suave fresco!

- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de
meter um tapa na sua cara desavergonhada!

- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!

- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de
tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro,
qui inté rima com brabuleta...

- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?

- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?

- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e
macio, acertei?

- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô
de rôia!

- Mole e redondo, com bouquet forte?

- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois.. e é treis! Num
corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento!... '

Luiz Fernando Veríssimo

10 novembro 2008

"Ai Meus Deus"

AI MEU DEUS
Arte de Henri Toulouse-Lautrec
Minha homenagem ao escritor Fabrício Carpinejar
"Ai meu Deus".

A exclamação não surge no mercado, na loja, no trabalho, mas na cama.

No momento em que deveria aceitar o inferno, assobia para Deus, pede para que Ele se aproxime e ainda veja o que estamos fazendo. Muita safadeza para compreender numa noite. Com um simples impulso, a mulher nunca mais volta para si.

É uma contradição saborosa. Um paradoxo trepidante. Como se estivesse rezando para que o prazer não seja tão violento. Para diminuir a excitação. Para frear e doer menos na volúpia.

Nenhum macho tem preparação para se defender desse apelo místico, desse grunhido bíblico, dessa oferenda suspirada no fervor do pecado.

Há um backing vocal mais provocante?

Ao invés de urrar meu nome, ela martela a voz: Deus para cá, Deus para lá. Você se percebe um instrumento. Um transístor. Uma corrente do espírito do santo.

Não é mais sexo, é uma trepada mística. Um triângulo amoroso quase imperceptível.

E se prepare: será uma orgia quando, ao final, ela alternar freneticamente "Ai Meu Deus" com "Ai Meu Jesus".

Eu me converto.

03 novembro 2008

A coceira e o advogado


Amit era um alto funcionário da corte do Rei Akbar. Há muito tempo nutria um desejo incontrolável de mexer nos voluptuosos seios da rainha até se fartar.
Todas as vezes que tentou, porém, deu-se mal.
Um dia, ele revelou seu desejo a Birbal, principal conselheiro e Advogado do Rei, e pediu que ele fizesse algo para ajudá-lo.
Birbal, depois de muito pensar, concordou, sob a condição de Amit lhe pagar mil moedas de ouro, que aceitou o acordo.
No dia seguinte, Birbal preparou um líquido que causava comichões e derramou no sutiã da rainha, que o deixara fora enquanto tomava banho.
Logo a coceira começou e aumentou de intensidade, deixando o rei preocupado.
Médicos de todo o reino foram chamados, mas nada resolveu. Birbal então disse ao Rei que apenas uma saliva especial, se aplicada por quatro horas, curaria aquela espécie de coceira. Birbal também disse que essa saliva só poderia ser encontrada na boca de Amit.
O Rei Akbar ficou muito feliz e então chamou Amit que, pelas quatro horas seguintes, fartou-se com vontade os suculentos e deliciosos peitões da rainha, apertando e passando a mão, ele fez o que sempre desejou.
Satisfeito, ele se encontrou com o advogado Birbal que queria receber o combinado. Com seu desejo plenamente realizado e sua libido satisfeita, Amit se recusou a pagar ao advogado e, ainda por cima, o escorraçou e zombou de sua cara, pois sabia que Birbal nunca poderia contar o fato ao rei.
Mas Amit havia subestimado o Advogado Birbal. No dia seguinte, por vingança, Birbal colocou o mesmo líquido na cueca do rei.
MORAL da HISTÓRIA

Você pode ficar devendo pro mundo inteiro.

Mas NUNCA, NUNCA MESMO, pense em dever para um Advogado.

01 novembro 2008

Olhar profundamente



"Você me diz que eu te olho profundamente.
Desculpa, tudo que vivi foi profundamente.
Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços, guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse possibilidade de eu me inventar de novo.
Desculpa, desculpa se te olho profundamente, rente à pele a ponto de ver seus ancestrais nos seus traços, a ponto de ver a estrada antes dos teus passos.
Eu não vou separar minhas vitórias dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim; nenhuma parte, nenhum pedaçodo meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente!"
(DESCULPA - Texto Ana Carolina - Adaptação unindo trechos das obras do poeta gaúcho Fabrício Carpinejar e do poeta russo Boris Pasternak)

AVENTURAR-SE É PRECISO!

  CAVALEIRO DE PAUS (Fonte: personare.com.br) O Cavaleiro de Paus como arcano de conselho para este momento de sua vida sugere que é chegado...